Notizen zu dieser Person
+ O ESTADO DE S. PAULO: PÁGINAS DA EDIÇÃO DE 03 DE Dezembro DE 2012 - PAG. 33 Administrado por:Ana Cecília Amado Sette Filha de Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar Von Ihering e Isabel de Azevedo von Ihering Esposa de Aroaldo Azevedo HERMANN VON IHERING Maria von Ihering de AzevedoTodos sabem que vovô Ihering veio para o Rio Grande do Sul atraído pelas maravilhas que contavam sobre a beleza e pujança da natureza deste país. Em parte, sim. Mas o verdadeiro motivo apareceu agora num livro que recebemos da Alemanha, publicado pelo centenário da morte do bisavô, Rudolf von Ihering. Recém formado em medicina, vovô Ihering foi substituir o falecido Dr. Wolf, médico interno de um hospital... e apaixonou-se pela bela viuvinha Anna Maria Clarz Belzer e com ela se casou! Contrariando os grandiosos planos do pai, que desejava para nora a sobrinha de Bismark. Não chegaram a romper relações, mas ficaram bem estremecidas. Chegando ao Brasil, o casal e o enteado, nosso querido tio Sebastião Wolf, instalaram-se em Taquara do Mundo Novo, perto de Porto Alegre, onde nasceram tia Clarinha e meu pai - Rodolfo. Mais tarde meu avô comprou uma ilha no Rio Camacuã e mudou-se com a família para lá. Por ser o único médico da região, foi chamada de "Ilha do Doutor", nome que conserva até hoje. Muitos vinham à sua casa consultá-lo e ele atendia a clientela de barco. O pagamento, como sói acontecer na roça, era bem diversificado: ovos, galinhas, algum leitão, frutas, verduras, mel e até peças de crochê. Papai ria muito ao se lembrar de um matuto, que nunca tinha visto uma vidraça e nem sabia o que era; nervoso, esperando sua vez, deu uma cusparada na janela e levou o maior susto vendo o cuspe escorrer nela! Num belo dia chegou um convite muito especial para os grandes festejos dos setenta anos do bisavô - Prof. Rudolf von Ihering. Idade bem avançada para a época. A tradução do seu livro "A luta pelo Direito" para todos os idiomas deram-lhe fama internacional. A Alemanha, orgulhosa dele, quer homenageá-lo pomposamente. Meu pai e tia Clarinha iriam, por fim, conhecer os avós. Tempos depois lembravam-se de que foram recebidos com muita reserva, porque vindos do Brasil "só podiam ser índios". Ao chegar foram para a casa de hóspedes. Mas a vovó Clara os tinha educado primorosamente: tia Clarinha só cumprimentava fazendo o "knik", reverência requintada das meninas fidalgas e ambos falavam corretamente o alemão, logo conquistaram o coração dos avós. Passado o susto foram transferidos para o castelo e voltou a reinar a paz. A convivência amorosa marcou-os profundamente - sempre se referiam a essa temporada com entusiasmo e carinho. Voltaram à Ilha do Doutor. Azevedo, M. von H. Bol. CEO Nº 14 - Julho de 2000 55 Como conta meu pai no seu livro Conto de um Naturalista, a vida correu tranquila enquanto durou a monarquia. Diz ele: "Com o advento da República, os jacobinos entenderam que toda ciência feita pelos naturalistas estrangeiros do Museu Nacional não contrabalançava uma demonstração de seus rubros sentimentos e foram demitidos esses servidores de nomes arrevezados." Não sendo político, era perseguido pelos dois partidos. Assim, foi com prazer que vovô aceitou, em 1892, o convite de Cezário Motta pra organizar um museu de história natural em São Paulo. Começou com o bem pequeno Museu Sertório, que, já mais desenvolvido se instalou junto ao Monumento do Ipiranga, trabalhando com toda dedicação até 1916. Morava numa bela casa junto ao museu e nele escolheu para seu escritório a sala lateral, de onde avistava o terraço da sua casa. Naquele tempo já devia acontecer a falta de verbas!! e o Diretor do Museu foi chorar as mágoas para o Diretor do Tesouro, o Cel. Luiz Gonzaga de Azevedo. Em meio a outros assuntos falaram sobre música, grande paixão de ambos. Nas duas famílias todos tocavam muito bem um instrumento e foi feito o convite para que os Azevedo fossem aos domingos ao Ipiranga, a fim de tocarem juntos. Era praxe todo mundo estudar piano e só depois partir para outro instrumento. Do lado Azevedo, Isabel foi pianista concertista e seus irmãos: Julio tocava violoncelo, Carlito - viola de orquestra e Luizinha violino. Do lado do alemão, tia Clarinha e vovô tocavam piano e Rodolfo violoncelo O Ipiranga era longe e a longa viagem era em bonde puxado a burros! Contam que vovó Clara era linda, alegre e hospitaleira. O almoço requintado terminava com as saborosas tortas alemãs. A outra avó - D. Mariquinha, esposa do Cel. Luiz Gonzaga Azevedo, pediu algumas receitas, mas a alemã, esperta, para garantir as visitas, sorria amavelmente e escapava - Sempre que quiser venha comê-las aqui! - e nunca as deu. Izabel, a filha mais velha do coronel, tinha oito anos e Rodolfo onze, quando seu amor por ela começou. Ele mesmo contava que para agradá-la colhia flores do campo para oferecer-lhe. O amor foi crescendo com ele e aos dezesseis anos pediu para ser batizado na religião católica, embora a mãe fosse de formação protestante. Ela tinha que conquistar a Belinha. Como toda a rapaziada da época, terminado o ginásio foi mandado para a Europa, fazer faculdade em Heidelberg. Com a morte prematura de seu irmão Guilherme, aos dezesseis anos, vovó Clara ficou muito abatida e faleceu. Meu pai ficou tão abalado que abandonou os estudos e voltou para o Brasil. Foi trabalhar com o pai que ele adorava e admirava, procurando consolá-lo e seguir-lhe os passos. Vovô sofreu demais com a perda da esposa, trabalhando ainda mais para combater a solidão. Escrevia muito aos amigos da Alemanha e também a uma vizinha, companheira de infância. Carta vai, carta vem... voltou à sua terra e ao seu primeiro amor, que já estava com quarenta e nove anos: D. Meta Buff, obrinha neta de Goethe, muito fina e culta, falava várias línguas e sempre apaixonada pelo Hermann!