Notizen zu dieser Person
Um, agnóstico, recluso, autoritário e asceta, só falava a sério. O outro,educado pelos jesuítas, cortesão, tolerante e gastador, parecia estarsempre brincando. Numa época em que a burguesia brasileira cabia nocinema Palácio, Augusto Trajano de Azevedo Antunes e Antonio Gallottieram as únicas pessoas capazes de reuni-la em menos de uma semana.Antunes Dr. Antunes, para os íntimos, A. T.A., para os empregados era o dono da Indústria e Comércio de Minérios, a Icomi, sócio daBethlehem Steel e da Hanna Mining, amigo do banqueiro DavidRockefeller. Terceiro filho entre seis, começara a vida como modestoengenheiro. Associara-se ao dono de uma casa lotérica de BeloHorizonte para explorar o manganês do Tijuco e em 1946 descobrira asmontanhas de minério da serra do Navio, no território do Amapá.Obcecado por métodos de gerência e técnicas industriais, trabalhavaduro. Com 56 anos, era um caso raro de milionário socialmenteimperceptível. Tinham em comum apenas um início de vida como postalistas.Não podiam ser mais diferentes, no entanto a habilidade com quemanipulavam a conexão do Estado com seus negócios, oanticomunismo, um certo prazer político em articular seus pares e omedo da influência esquerdista no governo Goulart os faziam idênticos.Oitenta e três dias após a chegada de Jango ao Planalto, as "classesprodutoras", autodenominação gloriosa que o empresariado se atribuía,aquartelaram-se, fundando o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais,o IPÊS. Antunes e Gallotti achavam-se no coração da manobra, um nocomitê executivo, ambos no comitê diretor. Haviam sido convertidospela figura impetuosa de Gilbert Huber Jr., dono das Listas TelefônicasBrasileiras. Na década de 70, para o bem da memória política nacional ediscreta contrariedade de Golbery, o historiador René Armand Dreifussencontrou o arquivo do IPÊSe reconstituiu boa parte de sua existênciano livro 1964: a conquista do Estado. Ao nascer, o instituto tinha oitenta sócios, e em menos de dois anos chegaria a quinhentos. Uma estrutura semelhante formara-se em São Paulo, e a sigla ramificara-se pelo Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco e Amazonas.Estatutariamente apolítico, o IPÊS destinava-se a estimular pesquisas edebates a fim de "contribuir para o progresso econômico" e "fortificar o regime democrático do Brasil". Poucos clubes conseguiram agrupartantos sobrenomes: Guinle de Paula Machado, Jacobina Lacombe,Ermírio de Moraes, Toledo Piza, Quartim Barbosa, Dumont Villares. Poucos negócios juntaram tantos logotipos: Esso, Mesbla, Rhodia, Arno,Sul América, Antarctica Paulista. Poucos ministérios reuniram tantotalento: Delfim Netto, Mario Henrique Simonsen, Augusto FredericoSchmidt, Miguel Reale, José Rubem Fonseca.2 2 René Armand Dreifuss, 1964: a conquista do Estado, pp. 173, 172, 164 e (apêndiceB) pp. 501 e segs. Para um depoimento de José Rubem Fonseca sobre o IPÊS,"Anotações de uma pequena história", Folha de S.Paulo de 27 de março de 1994. - Emmeados de novembro Augusto Trajano de Azevedo Antunes, o dono dasjazidas de ferro do Amapá e financiador do IPÊS, oráculo invisível de boaparte da plutocracia nacional, tivera dois convidados para jantar numapartamento da avenida Vieira Souto. Um era Julio de Mesquita Neto,da família proprietária d'O Estado de S. Paulo, quatrocentãoconservador e irredutível.59 Chamado a depor num IPM, se recusara aaceitar a qualificação de diretor responsável do jornal. Quando o oficialque o interrogava lhe perguntou quem, nesse caso, era o responsável pelo Estadão, respondeu que essa função estava com o ministro daJustiça, Alfredo Buzaid, "que todas as noites tem um censor natipografia do jornal".60 O depoimento foi encerrado Elio-Gaspari-O-Sacerdote-e-o-Feiticeiro-